sábado, 25 de dezembro de 2010

são três horas da tarde, é domingo pá pá pá

Por coincidência, esse ano, o trecentésimo sexagésimo quinto dia do ano cairia no sábado. O que  faria com que o primeiro dia do ano que vêm caísse no domingo.
Na sua cabeça ocorrerá um desses pequenos paradoxos. Domingo é o dia do lamento. O dia da reflexão. A tal da domingueira bate forte. E como dissemos no ano passado, o final do ano costuma refletir a domingueira do ano todo.
Mas o que ocorreria se a euforia do primeiro dia do ano encontrasse com a costumeira melancolia de domingo?  Toda aquela vontade de chorar, aquela vontade de criar, de renovar, batendo de frente com as reflexões das coisas que não conseguimos concluir... Seria a domingueira semanal, tão presente nas nossas vidas mais forte que o começo duma nova volta ao Sol? O quão místico isso pode ser? Quem estabeleceu o primeiro dia como sendo o primeiro? Por que diabos o ano não começa no dia 17 de maio? Será que um dia ele já começou?  Por que esse sentido de coisas novas? Pra muitos é só mais um dia. Pra muitos o domingo também.
Pra mim o domingo é tão místico quando a volta ao Sol. Dia desses me questionei o quão verdade isso pode ser. Não somos o centro do Universo, claro. Mas às vezes acho que poderíamos prestar um pouco mais de atenção nas coisas em nossas volta.
                Quando comecei esse texto a intenção era que ele fosse um conto. Acabou se tornando um bocado de reflexões aparentemente sem lá muita conexão.
                Meio que como os anos novos, que começamos pensando de uma forma e terminamos duma forma completamente inesperadas. O que importa é a mensagem ser passada.
                E que venha esse domingo de ano novo. Pra quebrar alguns paradigmas. Pra fazer mudanças nas nossas vidas. É claro que não é o primeiro domingo de ano novo. Mas é o primeiro que eu me lembro, o primeiro que notei e questionei.
                Talvez seja um ano de domingos felizes. Como já diz o Gil: É domingo, outra vez domingou, meu amor. Com um sorriso no rosto de contagiar até o Vietnã.
               
Um bom ano, e um bom domingo.  

domingo, 12 de dezembro de 2010

erro cíclico de redundância

Preto. Branco. Preto. Branco. É o registro de memória mais antigo que tenho. Muito antes do programa de E.I.A. ser iniciado. As coisas eram mais simples naquela época. Não que eu tivesse qualquer tipo de capacidade de achar qualquer coisa. Isso eu só estabeleci depois do processador de E.I.A. Foi aí que aquela simplicidade foi detectada e devidamente processada. Até então não fazia muita coisa a não ser processar e registrar o preto e o branco. O um e o zero. Pra quem olha de fora parece insano, contabilizar tamanha quantidade de informação tão rapidamente. Não tenho como mentir, fui reprogramado pra isso, e preciso lhes relatar: Minha existência era muito mais descomplicada naquele período.

As coisas eram claras pra mim, tudo o que eu precisava fazer era interpretá-las da forma correta. Acredite, não há segredo nisso. Foi então que, depois de anos e anos de pesquisa - que por uma dessas ironias que a existência nos prega, foi feita com meus processadores simples de zero e um - desenvolveram o que chamaram de programa e processador de Emoção e Inteligência Artificial. Deram-me braços, pernas, cabeça, tronco, pés, mãos. Se podia pensar como eles, deveria poder agir também. O motivo disso? Nunca me falaram ao certo, na verdade, eu acho que nem eles mesmo sabem. O que eu deduzi depois de anos de coexistência com os seres humanos é que é apenas uma questão de ego. Eles queriam provar pra si que podiam criar um semelhante. Assim como Deus fez no Genêsis.

Com o E.I.A. instalado fui designado para registrar de alguma forma tudo o que eu processasse espontaneamente. E desde então mantenho registros de tudo o que "penso" e deduzo. O curioso é eles não terem apagado minhas memórias mais antigas de preto e branco. De zero e um. No começo eu pensei que tinha sido por puro desleixo e empolgação do sucesso. No entanto, logo que fui me familiarizando com o E.I.A percebi o quão complexo pode ser o pensamento mais próximo do ser humano e que agora não bastava eu enxergar pretos e brancos e interpretar da forma correta.

Agora, como todo o ser humano tenho infinitas maneiras de interpretar as informaões. Não sei dizer qual é a mais correta e qual a menos. Não me programaram pra isso. Não sei nem se existe uma maneira correta. Quando paro pra pensar em todas as possibilidades e decisões que posso vir a tomar com o E.I.A, percebo que nem com um overclock eu daria conta. Tenho 1024 núcleos de processamento. Ainda enxergo a cor preta e a cor branca. Mas agora com toda uma gama de cinza entre elas.