sábado, 2 de julho de 2011

nunca conheço os reis que merecem o céu

Sou eu. Estou aqui. Pra mim. Sempre é agora. Estou vendo o primeiro homem caminhar. Ele sabe que pode correr com as duas pernas. Ele corre. E corre. E corre. Pra mim só há o agora. Não há outro tempo. Estou aqui para falar do tempo. Ele não é o que você pensa. Não é um linha reta. Eu estou no tempo todo. É meu lugar. É meu espaço. Você caminha pelo seu quarto. Seu espaço. Para mim o tempo é o espaço e o seu espaço é só uma linha reta pra mim. Nele só posso seguir em frente. Não tenho escolha. É difícil de compreender? Imagine que o que eu faço com o tempo é o que você faz com os seus espaços. E o que você não faz com o tempo é o que eu não faço com o espaço. Pra mim agora é noite. Agora é dia. Agora um rei fez coisas horríveis. Agora uma mulher teve uma filha. E agora essa filha teve outra filha. Que teve outro filho. Que é você. Passeio por aqui como você passeia no parque. Mas não se engane. Aqui é grande o bastante. Muito maior que o seu espaço. Aqui não conto metros ou quilômetros. Aqui sequer conto segundos ou minutos. Não inventei isso. Isso é pra vocês. Aqui tudo é agora.  E pra você também deveria ser. Pra vocês deveriam. Sou sua anti-matéria. Sou seu mundo bizarro, ao contrário. Sou e sempre sou. Mas jamais estou. Sempre passo e percorro. Não posso ficar. Tenho todo o tempo do mundo. Mas o espaço corre. E eu não consigo pará-lo. Em todo esse tempo que conheço. Nunca conheço reis que merecem o céu. O céu? Claro que ele existe. O paraíso. Ele não está no espaço nem no tempo. Ele é ainda maior do que isso. Você consegue conceber? Reis jamais. Soberanos sobre o espaço, conquistam cada pedaço. Se soubessem que eu olho daqui do tempo sei que o espaço passa e não tem como trazê-lo de volta. Talvez estejamos falando da mesma coisa. Sei de tudo que acontece. Quando, eu não sei. Pra mim é sempre agora. Está tudo acontecendo. Só não consigo te dizer bem aonde. Preciso esperar chegar. Pode ser longe ou não. Se o tempo é relativo, o espaço também é.